Fundos multimercados gringos oferecem ganhos maiores que os nacionais em 4 anos

Levantamento da gestora britânica
Schroders
mostra que,
nos último quatro anos, os fundos multimercados estrangeiros registraram ganhos superiores aos dos fundos nacionais da mesma categoria
.
No acumulado de 2021 a 2024, enquanto os fundos nacionais geraram 34,1% de retorno, em média, os fundos internacionais deram 39,5%
de retorno.
Apenas em 2022, os fundos nacionais foram melhores do que os do exterior: ganharam 13,7%, contra um ganho de 6,1%
. Conhecidos como hedge funds, os multimercados podem investir em diversos ativos, como renda variável, renda fixa e moedas.
Levantamento da Schroders compara o desempenho de fundos multimercados nacionais e internacionais — Foto: Schroders/Reprodução
Os retornos gerados pelos dois tipos de fundos foram medidos por meio do
Índice de Hedge Funds da Anbima (
IHFA
)
e o índice que mede o desempenho de fundos internacionais, o
Hedge Fund Research Indices (
HFRI
)
. Os fundos não estão expostos ao câmbio.
Os fundos multimercados brasileiros estão passando por maus bocados
por conta da perspectiva de alta de juros, aversão a investimentos de risco e resultados decepcionantes:
nos últimos 24 meses, 60% ficam abaixo do CDI
, aponta amostra de 585 fundos que fazem parte do Guia de Fundos da
Fundação Getúlio Vargas
(FGV).
“O desempenho dos fundos domésticos é melhor quando tem o ‘kit Brasil’ rodando direitinho:
bolsa em alta, juros em baixa e real valorizando”
, aponta
William Eid
, responsável pelo anuário de fundos da
FGV .
Por outro lado,
os fundos gringos vêm surfando um mercado acionário forte,
impulsionado por inovações, como a
inteligência artificial
generativa
e a
força das grandes empresas de tecnologia americanas
. A
força da economia americana, e os juros mais elevados por lá
, também colaboram para os maiores retornos dos pares no exterior.
Christopher Galvão
, analista da
Nord investimentos
, observa que,
nos últimos anos, muitos fundos, sejam os domésticos ou os internacionais, enfrentaram dificuldades para acertar apostas
. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve uma discussão muito forte sobre a desaceleração da economia, e muitos fundos erraram a tese e, consequentemente, tiveram performances ruins.
Contudo, geralmente, os fundos
multimercados lá fora têm estratégias menos dependentes de juros e conseguem ter acesso mais amplo a mais economias. Muitos também têm alocação um pouco mais significativa em ações, enquanto no Brasil, por exemplo, costumam ser muito dependentes de juros.
“São multimercados com características diferentes, então a performance também acaba sendo diferente”.
Mais opções
As opções lá fora são bem mais numerosas do que as do Brasil
. Enquanto a
indústria nacional de fundos multimercados soma pouco mais de US$ 1,5 trilhão
de recursos sob gestão,
a indústria internacional soma US$ 4,3 trilhões
. Do total dos recursos aplicados,
60% está nos EUA, 20% na Europa, Oriente Médio e África, 12% na Ásia e apenas 2% em outras regiões
.
Se considerarmos apenas os
UCITs
,
fundos europeus
que seguem regras para diversificação de seu portfólio, liquidez e uso de alavancagem,
esse número cai para US$ 235 bilhões
. Neste ambiente,
54% são diversificados, 37% investem em ações, crédito ou ativos alternativos, e 9% visam mitigar riscos
.
Fundos internacionais em reais podem ser acessados hoje em plataformas de corretoras e bancos de investimentos nacionais. As principais instituições oferecem fundos de terceiros, inclusive gestoras internacionais. Mas caso o investidor se interesse por fundos que não são distribuídos aqui, devem acessar plataformas de investimento direto lá fora, como a
Avenue
e os braços internacionais do
C6, XP e
BTG
.
Vantagens e desvantagens
Algumas características tornam os fundos multimercados estrangeiros diferentes dos brasileiros, aponta
Daniel Celano
, diretor para o Brasil da
Schroders
.
Enquanto
fundos com alta liquidez
, no qual se pode resgatar o dinheiro aplicado em menos de 10 dias,
são minoria no Brasil, lá fora os UCITs costumam ter liquidez diária ou semanal
.
Além disso,
fundos internacionais tendem a ter retornos não correlacionados com fundos brasileiros
. Ou seja, quando fundos nacionais vão mal, estes fundos tendem a ir bem, e vice-versa, o que protege contra quedas de um dos mercados e melhora o perfil de risco e retorno do portfólio.
Veja abaixo a tabela que demonstra isso na prática.
Nos dez piores meses para os fundos nacionais, em sete os fundos no exterior registraram um desempenho melhor, e em quatro chegaram a ficar em terreno positivo
.
Os 10 piores meses dos fundos nacionais contra os fundos internacionais
Índice de fundos nacionais (IHFA)
Índice de fundos internacionais (HFRI) com proteção cambial
Índice de fundos internacionais (HFRI) em reais
Novembro de 2022
-1,52%
2,41
2,51%
Abril de 2024
-1,49%
-0,43%
2,79%
Outubro de 2023
-0,86%
-0,78%
-0,16%
Agosto de 2023
-0,73%
-0,12%
3,23%
Outubro de 2021
-0,73%
0,91%
4,17%
Novembro de 2021
-0,49%
-0,63%
-1,61%
Junho de 2022
-0,39%
-1,12%
8,65%
Janeiro de 2024
-0,32%
0,38%
2,45%
Fevereiro de 2023
-0,19%
0,07%
1,56%
Março de 2023
-0,15%
-0,13%
-3,03%
Fonte: Schroders
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O contrário também acontece
.
Nos dez melhores meses dos fundos brasileiros, em seis deles os fundos no exterior ficaram para trás, sendo que um deles registraram perdas
.
Os 10 melhores meses dos fundos nacionais
Índice de fundos nacionais (IHFA)
Índice de fundos internacionais (HFRI) sem o efeito do câmbio
Índice de fundos internacionais (HFRI) em reais
Março de 2022
3,55%
0,38%
-8,29%
Dezembro de 2023
2,65%
2,31%
-0,04%
Novembro de 2023
2,52%
2,96%
0,16%
Agosto de 2022
2,44%
0,85%
-0,11%
Junho de 2023
1,51%
2,09%
-3,94%
Julho de 2024
1,51%
0,65%
2,19%
Setembro de 2022
1,49%
-0,87%
2,68%
Julho de 2023
1,47%
1,50%
-0,74%
Abril de 2022
1,36%
0,04%
2,90%
Outubro de 2022
1,34%
1,45%
-1,97%
Fonte: Schroders
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Por isso, Celano defende que
a categoria de fundos multimercados não deve ser composta inteiramente por fundos internacionais
.
Ter dinheiro aplicado em ambos
pode, além de proporcionar mais retornos, diminuir o risco da carteira. “Os fundos podem coexistir no portfólio”.
Mas antes de investir em ambos,
William Eid
, professor do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Cef), faz algumas ponderações.
Mais do que a correlação entre ativos, o foco do investidor ao diversificar deve ser o risco de perda de capital permanente
, conclui. “É por isso que colocamos aplicações em diversas empresas”.
Além disso, ressalta que
a média de retornos dos fundos no exterior fica bem abaixo ao de estratégias de fundos de índice
(os chamados ETFs). Por exemplo,
o ETF que seguiu o S&P 500 ganhou, entre 2021 e 2024, mais de 50%, bem acima da média de retornos dos fundos lá fora
. E é necessário lembrar que muitos dos
fundos multimercados tendem a cobrar taxas maiores do que as dos ETFs
,
o que come parte dos rendimentos.
Portanto,
lá fora, assim como no Brasil, o investidor precisa procurar pelos melhores
, observa Eid. Mas fundos renomados gringos, assim como acontece aqui, geralmente são fechados para investimentos. Como opção,
as gestoras oferecem fundos abertos com desempenho inferior
, aponta Eid.
Por fim, o professor da FGV ressalta que o desempenho passado não significa retorno futuro. ”
Nos últimos anos, as empresas de tecnologia americana se valorizaram muito e carregaram o mercado com elas. Não sei se isso irá continuar, assim como a febre do bitcoin
“.
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