Opinião – Ibovespa B3 e outros índices: como nascem e qual a importância das bússolas do mercado

Os índices financeiros desempenham um papel fundamental no apoio aos investidores. São ferramentas de auxílio a tomada de decisões, referências confiáveis no mercado. Conhecidas popularmente como “termômetros”, prefiro chamá-los de “bússolas”, pois servem para guiar o investidor. Mas, como surgem essas poderosas ferramentas? Qual o contexto por trás de sua criação?
Uma mudança recente de conjuntura talvez seja o melhor exemplo. A renda fixa é uma velha conhecida dos brasileiros, mas ganhou novos contornos, bastante relevantes, no ano passado. O crédito privado deslanchou, tendo como principal representante as debêntures, maior instrumento de captação das empresas em 2024, com um volume total na casa de R$ 700 bilhões. O efeito prático disso, visto até hoje, é o crescimento desses papéis nas prateleiras de bancos e corretoras, e o investidor sem saber muito como se orientar – principalmente os que nunca navegaram por esses mares.
De olho principalmente nesses movimentos é que surgem as ideias de ferramentas que possam ajudar o mercado. Os índices são a alternativa mais acessível e de fácil compreensão nesse universo.
Em fevereiro deste ano, a
B3
lançou um indicador chamado “Debêntures Ultra Qualidade DI”, que traz o desempenho médio dos preços desses ativos aceitos como depósito em garantia na bolsa. O objetivo foi justamente auxiliar o investidor e contribuir para a expansão do mercado de renda fixa no país. No nome, o novo índice já traduz uma marca relevante da sua metodologia, a de reunir ativos selecionados dentro de um vasto repertório existente no mercado.
Neste mês, tivemos mais uma novidade. O lançamento do “Índice de Debêntures Ultra Qualidade IPCA B3”, que apresenta o desempenho médio dos preços das debêntures incentivadas com remuneração composta por IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), mais spread.
Do pioneirismo ao recorde
Não é um trabalho trivial. A B3 é pioneira na elaboração de índices no país, algo que demanda infraestrutura robusta, ampla base de dados e, claro, muita expertise. Desde o nascimento do índice mais famoso do mercado, o Ibovespa (em 1968), a bolsa já criou mais de 40 indicadores, contemplando os segmentos de ações e renda fixa. Em 2024, um recorde foi atingido, com o lançamento de sete índices, seis deles derivados do carro-chefe Ibovespa.
Para que isso pudesse se materializar, no entanto, a B3 cumpriu uma trajetória de fortes investimentos em tecnologia, com destaque recente para big data e metodologia ágil. Isso permitiu, em 2022, a inauguração de uma plataforma de índices sob demanda. Isso mesmo: uma empresa ou instituição financeira pode encomendar para a bolsa a criação de um índice ou subíndice customizado, de acordo com suas necessidades.
Além de servir de bússola em um nicho específico de mercado, o nascimento de um indicador permite que novos produtos ocupem espaço ao seu redor. O principal deles são os fundos de índice, conhecidos pela sigla em inglês ETF, cujas cotas são negociadas em bolsa. Tais portfólios têm uma lógica bem simples: replicar um determinado indicador e permitir que o interessado, dentro da própria lógica de um fundo de investimento, compre aquela carteira de ativos no formato de cotas.
Na prática, um ETF atrelado ao Ibovespa, por exemplo, oferece ao investidor o portfólio completo de ações que compõem esse índice, de maneira fácil, transparente e com liquidez diária. Entram em cena também os benefícios da diversificação e custo reduzido.
Outra aplicação dos índices no dia a dia é permitir o surgimento de estruturas mais complexas, como contratos futuros, além de nortear uma infinidade de alternativas no mercado de derivativos. Dessa maneira, o cardápio se abre para os diferentes tipos de investidores, dos mais simples aos mais sofisticados.
Com tudo isso, ao conferir a variação diária do Ibovespa nos noticiários, vale o investidor refletir também sobre as transformações dos mercados. A B3, por exemplo, tem diversos outros negócios e hoje é muito mais do que a bolsa do Brasil. É também a principal casa de índices do mercado, comprometida com a transparência e melhores práticas. Nesse sentido, novos indicadores estão por vir, atendendo a uma demanda por diversificação nesse vasto oceano da renda fixa. Em breve, tem novidade na praça
Por
Ricardo Cavalheiro,
superintendente de Índices da
B3
Ricardo Cavalheiro, superintendente de Índices da B3 — Foto: Divulgação
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