A busca por
fundos de infraestrutura
—
produtos de renda fixa que compram debêntures incentivadas
—
disparou no último ano e deve seguir elevada com os altos juros
no país. A maioria desses fundos busca
pagar mais que o CDI
, uma taxa parecida com o juro básico,
e eles são isentos de Imposto de Renda para os investidores pessoas físicas
, o que os torna mais rentáveis. Contudo, são aconselhados
para o longo prazo
porque podem oscilar mais que outros de renda fixa. A maioria dos produtos é vendida nas prateleiras de corretoras e bancos, mas
está aumentando o número de fundos de infraestrutura negociados em bolsa.
As debêntures são papéis de renda fixa emitidos pelas companhias
para captarem dinheiro emprestado dos investidores, que recebem uma remuneração por isso.
As debêntures incentivadas são um tipo de título que serve para as empresas financiarem projetos de infraestrutura
, como
aeroportos, energia, portos, rodovias e saneamento básico
.
Elas são chamadas dessa forma porque o governo concede um incentivo aos investidores.
Os compradores das debêntures incentivadas não precisam pagar Imposto de Renda sobre os lucros obtidos
, o que é um dos maiores benefícios dessas aplicações.
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Os fundos de infraestrutura compram debêntures incentivadas, por isso também são nomeados de fundos de debêntures incentivadas
.
Os cotistas desses fundos também não pagam Imposto
de Renda.
O benefício de comprar um fundo de infraestrutura
em vez dos títulos diretamente é que
a carteira de debêntures é mais diversificada e é escolhida por um gestor
de investimentos profissional, o que
ajuda a diluir o risco
. O objetivo da maioria dos fundos também é bater o CDI, mas
existem fundos cujo objetivo é superar índices de inflação
.
Os números que mostram como esses fundos estão aquecidos são impressionantes.
O número de contas dos clientes em fundos de infraestrutura saltou quase quatro vezes nos últimos 12 meses
até janeiro.
O salto foi de 291,5 mil contas para 1 milhão
. As contas não necessariamente representam o número de CPFs, porque os clientes podem ter aplicações em diferentes instituições.
Já
o patrimônio desses produtos saltou quase três vezes
nesse período,
de R$ 68,4 bilhões para R$ 191,2 bilhões
. A demanda enorme levou a uma maior oferta de produtos.
O número de fundos de infraestrutura saltou quase três vezes
nos últimos 12 meses até janeiro.
O crescimento foi de 466 fundos para 1,3 mil
. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (
Anbima
).
Uma série de motivos explica a disparada na busca pelos fundos de infraestrutura.
O apetite aumentou em meio à taxação dos fundos exclusivos dos muito ricos e à maior restrição para a emissão dos papéis de renda fixa isentos, como as
letras de crédito agrícola e imobiliário (
LCAs e LCIs
). Esses dois motivos levaram os investidores a buscarem uma alternativa de aplicação isenta, mas provavelmente não se repetirão neste ano.
A previsão é que
a procura por esses fundos desacelere, mas continue alta com os elevados juros e a procura por segurança
, que tornam a renda fixa bastante atrativa. Especialmente os investimentos isentos de Imposto de Renda chamam a atenção, porque
a isenção turbina a rentabilidade
. Os gestores explicam que existe um déficit enorme de investimentos em infraestrutura no Brasil e que
os fundos de infraestrutura estão participando mais como financiadores desses investimentos
.
“O gargalo de infraestrutura no país é uma realidade e as possibilidades de investimentos nessa modalidade são muito grandes. Até em um ano complicado para o crescimento econômico,
é impressionante a quantidade de projetos de estradas e aeroportos saindo do papel
”, afirma
Samer Serhan
, sócio da
JiveMauá
e chefe da área de crédito privado e infraestrutura.
“As empresas necessitam de recursos a juros atrativos para investir para o longo prazo e há uma demanda alta por debêntures isentas e de qualidade boa”, diz. Ele acrescenta que
as empresas emissoras de debêntures incentivadas têm menos risco de darem calote nos investidores
,
porque o setor de infraestrutura aguenta os ciclos econômicos melhor e os projetos são de prazos mais longos
.
No entanto, é importante contar com bons gestores para selecionar os títulos.
O trabalho desses profissionais deve ser mais difícil neste ano
, com a expectativa de menos emissões de debêntures, com as companhias com as dívidas turbinadas em meio aos juros altos. Além disso,
os juros dos papéis recuaram em relação a 2024, com a demanda tão alta, o que já motivou resgates desses produtos em janeiro.
“
Os fundos de infraestrutura seguirão sendo protagonistas neste ano de desafios para os investimentos de renda variável, e a isenção de imposto é o seu grande apelo
”, afirma
Ricardo Eleuterio
, diretor da
Bradesco
Asset
, a gestora de fundos do banco. “
Mas estamos falando de um cenário também mais desafiador [para os fundos de infraestrutura], com taxas mais próximas do CDI, ou seja, mais comportadas
”, diz.
Paulo Bokel
, chefe da área de crédito privado da
Absolute Investimentos
, está mais seletivo para escolher os papéis. “
Estamos investindo nas debêntures das companhias mais conhecidas
”, afirma. “
Mas no segmento de infraestrutura, as debêntures em geral são de melhor qualidade
.
As companhias emissoras são maiores, mais sólidas e têm mais previsibilidade de fluxo de caixa
”, diz.
As debêntures incentivadas são de longuíssimo prazo e remuneram uma taxa mais a inflação
, o que
gera muita oscilação nos preços desses papéis e nas cotas dos fundos
. Como elas oscilam muito, pode ser que os fundos não batam o CDI todo mês. Por isso, Bokel aconselha aos investidores não olhar a cota com frequência e
investir para o longo prazo, de no mínimo um ano
.
Fundo de renda fixa na bolsa? É isso mesmo
Atualmente,
existem dois formatos de fundos de infraestrutura
: a maioria está
à venda nas prateleiras das corretoras e bancos
, mas mais recentemente nasceram
alguns fundos de infraestrutura à venda na bolsa brasileira
. Atualmente,
existem 30 fundos de infraestrutura listados em bolsa
, chamados de
Fundos Incentivados de Investimento em Infraestrutura (FIs-Infra)
.
Apesar de estarem na bolsa, eles
continuam sendo fundos de renda fixa e são isentos
também
.
A grande oscilação nos preços dos papéis e nas cotas dos fundos às vezes afugenta os cotistas desavisados, que podem resgatar os recursos no pior momento e deixar os gestores com um problema. Esses profissionais podem
ter que vender os títulos a qualquer preço para pagar os investidores que estão pedindo para sair, e isso causa perdas para quem segue investindo no fundo
.
Esse risco existe nos fundos de infraestrutura mais tradicionais, não listados em bolsa
. Já
nos listados em bolsa, os gestores não têm esse risco e são mais livres para escolher as debêntures, sem se preocupar com os resgates.
Nesses fundos, o investidor que quiser sair vende a sua cota na bolsa
, cujo preço varia segundo as negociações do mercado, como uma ação.
Assim, os gestores não precisam vender os títulos a qualquer preço para pagar os investidores que estão pedindo para sair.
Ainda,
outra vantagem dos fundos da bolsa é que eles distribuem dividendos
,
de uma forma parecida com os fundos imobiliários
. Ou seja, podem ser interessantes
para os investidores que querem viver de renda, em prazos mais longos ainda, de três anos ou mais
.
Alguns fundos não listados pagam proventos também, mas são poucos.
A maioria dos fundos de infraestrutura listados está negociando com desconto na bolsa atualmente
, como está acontecendo com as ações, os fundos imobiliários e os produtos à venda na bolsa em geral.
Isso pode ser uma oportunidade
.
Porém, essa redução no valor da cota na bolsa pode assustar quem não está acostumado a comprar investimentos nesse mercado.
As cotas dos fundos listados são mais voláteis do que as dos produtos não listados em bolsa e os gestores investem, em geral, de uma forma mais agressiva
.
Clara Sodré
, analista de fundos da
XP
, acha que os fundos de infraestrutura seguem valendo a pena para investir por três anos ou mais, mesmo rendendo menos do que no ano passado e com mais riscos no radar. Mas ela
aconselha atualmente comprar os fundos com objetivo de superar um índice de inflação (e não o CDI)
, que são mais voláteis, mas podem render mais no longo prazo
.
“Continuamos acreditando na classe, mas o investidor precisa ser seletivo”, afirma. “A isenção de Imposto de Renda é um benefício importante e infraestrutura é um segmento anticíclico em um ambiente de muita volatilidade. O Brasil tem uma demanda grande por infraestrutura”, diz. Ela
aconselha comprar fundos de infraestrutura listados em bolsa apenas para investir para longuíssimos prazos
, para a venda não ser em um momento em que o mercado está em baixa.
Já
Pedro Claudino
, analista de fundos de renda fixa e crédito da
Empiricus
,
gosta mais dos produtos negociados na bolsa
, para evitar o risco dos saques obrigarem os gestores a se desfazerem das debêntures a qualquer preço. E
se o investidor escolher um fundo não listado, ele recomenda optar por uma carteira que permita resgates só depois de 30 dias ou mais
.
“
O risco de perda nos listados em bolsa é menor
e os gestores desses fundos não mantêm tanto caixa para pagar os resgates, o que é positivo para os investidores. Vivemos provocando as gestoras para lançarem mais fundos de infraestrutura listados”, afirma. “O maior risco desses produtos é a possibilidade das empresas darem calote, por isso é necessário selecionar gestores experientes e cuidadosos”, diz.
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— Foto: Getty Images
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