Teia da Materialidade: porque tudo está interligado!

Como é bom ver o avanço da agenda. Lembro quando “Materialidade”, consagrado conceito do mundo da contabilidade, chegou ao universo da sustentabilidade. Corremos para entender o que era essa tal de “Matriz de Materialidade”, as empresas começaram a fazer fóruns anuais com stakeholders para ouvir suas opiniões, enfim, mergulhamos nessa novidade trazida primeiro pela AccountAbility, em 1999, na publicação do framework da AA1000 , e depois pela GRI, em 2006, com a G3.
Dos estanques questionários e encontros anuais, entendemos que tínhamos que capturar continuamente as percepções dos públicos, inclusive por meio dos seus canais tradicionais. Depois, chegou a lógica da Dupla Materialidade e assim caminhamos nessa estrada.
Como membro de Comitês de Sustentabilidade e Conselhos de Administração, sou envolvida nessa atividade, que é fascinante porque revela, quando bem feita, a essência da empresa. Quero compartilhar nesse artigo uma proposta inovadora que concebemos na Materialidade 2024 da Vinci Compass, gestora de investimentos alternativos e soluções globais, onde integro o Conselho de Administração, o Comitê de Auditoria e presido o Comitê de Sustentabilidade.
Esse processo, que foi uma atualização do ciclo anterior, de 2022, seguiu os passos clássicos: entendimento do contexto empresarial, levantamento de benchmarking, mapeamento de stakeholders, avaliação da relevância dos impactos e priorização dos temas. Em termos de governança, a liderança foi da área de Sustentabilidade, com apoio técnico da consultoria Alvarez & Marsal, com revisão do GT de Sustentabilidade (que eu também integro), aprovação pelo Comitê de Sustentabilidade e validação pelo Conselho de Administração.
Foi numa reunião intermediária do GT que me ocorreu propor ao grupo que fizéssemos um exercício de apresentação dos temas materiais em “teia”, ou seja, mostrando a correlação entre eles. Tive a ideia inspirada por uma das formas que o Fórum Econômico Mundial utiliza no seu “Relatório de Riscos Globais”, que aprecio muito. Assim, além da tradicional lista, traríamos algo mais dinâmico, que ofereceria uma leitura abrangente e interconectada dos assuntos. O grupo logo aceitou e após estudos e análises criamos o formato, que até onde tenho notícia é inédito.
A teia facilita a visualização das interrelações e dos impactos positivos e/ou negativos entre os temas, inclusive a partir da intensidade da cor das setas que unem os diferentes pontos, o que é essencial para uma gestão eficaz. Além disso, possibilita uma compreensão mais holística das influências e consequências de cada tema.
Isso não só suporta uma tomada de decisões mais assertiva, mas também alinha as ações institucionais, como analisa Julya Wellisch, sócia e Head Jurídica, de Compliance e de Sustentabilidade: “A materialidade em teia é uma ferramenta inovadora que proporciona uma visão clara da interconexão entre os temas materiais para a Vinci Compass, evidenciando que a sustentabilidade resulta da interação de múltiplos fatores, os quais constituem sua base e asseguram a perenidade da companhia”.
Materialidade Vinci Compass — Foto: Reprodução
Mas não adianta definir a Materialidade e ela se tornar apenas uma informação do Relatório de Sustentabilidade. É preciso que seja base para decisões estratégicas. Por isso, após a conclusão do trabalho, nos desafiamos a ir além. Mapeamos as ações da Vinci Compass em cada tema para uma avaliação quantitativa e qualitativa e montamos um sistema de gestão.
Nesse sistema, cada tema material tem um conteúdo específico composto por: (i) quantidade de iniciativas correlacionadas identificadas, na Vinci Compass e investidas; (ii) categorias das iniciativas identificadas e (iii) análise das iniciativas, com a demonstração do nível de maturidade no gerenciamento de riscos e oportunidades ligados ao tema, bem como sugestões de implementação. Também foi elaborado um mapa de visualização geral, relacionando temas materiais com as categorias das iniciativas.
Essa ferramenta ajuda a identificar pontos de melhoria e oportunidades de aprofundamento, estabelecendo o nível de maturidade de cada tema. Assim, é possível delinear estratégias para que as ações da Vinci Compass estejam progressivamente alinhadas com a sua Teia da Materialidade. Porque consistência tem que ser o nome desse jogo!
Toda essa jornada foi muito interessante porque fomos descobrindo ao longo dela o que funcionava, o que não, e como tornar de fato a Materialidade um instrumento vivo e útil para a gestão. Mas a gente falar da gente mesmo é fácil.
Então, fui consultar a maior especialista do assunto, Glaucia Terreo, que foi Head da GRI no Brasil por 15 anos e hoje atua como professora, palestrante e consultora na Ondas Sustentáveis. Fiquei feliz ao ver sua opinião: “A Teia da Materialidade é uma abordagem inovadora que fortalece a visão sistêmica da sustentabilidade, permitindo uma compreensão das interconexões entre os temas materiais e com impactos, riscos e oportunidades. Ao integrar essa perspectiva com a leitura de cenários e a matriz de riscos, a gestora amplia sua capacidade de adaptação e resiliência, favorecendo decisões estratégicas assertivas. Esse olhar estruturado não só contribui para a perenidade dos negócios, mas também para a geração e proteção de valor, assegurando retornos consistentes e um relacionamento de longo prazo com investidores e stakeholders”.
Meu objetivo com esse artigo era dividir uma experiência que julgamos bem-sucedida para irmos nos apoiando nesse caminho. Porque sempre há algo de novo a fazer no fascinante universo da sustentabilidade.
Sonia Consiglio
é
SDG Pioneer
pelo
Pacto Global da ONU
e especialista em Sustentabilidade.
Sonia Consiglio — Foto: Arte sobre foto de divulgação
Mais recente
Próxima
2025 será (ainda mais) desafiador para os Conselhos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *