Vim, vi e perdi

Hoje eu vou falar sobre pressa. E sobre paciência também. Ingredientes essenciais para qualquer um em qualquer contexto. Quase todo mundo já ouviu a frase que intitula essa coluna alguma vez na vida. A original é “Veni, Vidi, Vici” e foi usada pelo imperador romano Júlio César em 47 a.C., após uma vitória decisiva contra Farnaces II, rei do Ponto, a atual Turquia. Como dá para ver, ela é bastante antiga, mas tão atual e aplicada a tantos conceitos que resolvi usá-la por aqui. Ela entrou para a história como um símbolo de sucesso rápido. Ela significa uma vitória indiscutível, ganho fácil, certo, triunfo sem sombra de dúvidas. Tornou-se um símbolo de sucesso célere e absoluto.
De certa forma, é o que a maioria busca nos dias de hoje. Coisa rápida, ninguém tem mais paciência para esperar.
A paciência virou coisa extinta e é a pressa quem dita o cotidiano.
Se quer sucesso rápido, vídeos curtos a longas metragem, tutoriais a manuais de instruções, cinco passos ao invés dos ensinamentos da corrida de longa distância. Até as séries perdem audiência para as minisséries, porque se quer chegar logo no final.
A pressa, no entanto, te faz chegar rápido, mas não garante o triunfo.
No mundo dos investimentos a coisa não é líquida e certa nem mesmo para os pacientes
. Líquida até pode ser, mas certa, jamais.
Nele, a realidade é que, quando a expectativa da coisa rápida colide com a necessidade de esperar para vencer, o que se vê é gente que vem, vê e perde
.
Nos últimos anos, a bolsa de valores brasileira (
B3
) viu um crescimento expressivo no número de investidores pessoa física.
Em 2017, eram cerca de 600 mil investidores e hoje esse número supera 5,3 milhões
. Nesse mesmo período,
o Tesouro Direto viu sua base saltar de mais de 565 mil para mais de 3 milhões de investidores ativos
. Sem falar na
indústria de fundos de investimentos que atualmente ultrapassa a casa dos R$ 9 trilhões em patrimônio líquido
. Isso tudo, entre outras coisas, é reflexo da popularização dos investimentos e do aumento do acesso à informação financeira. Uma vitória!
No entanto,
junto com essa expansão, veio também o preocupante fenômeno da impaciência com o tempo do mercado
, motivada muitas vezes pelos milagres do enriquecimento rápido estampado nas redes sociais e pela expectativa criada sobre como, de fato, funciona a dinâmica desse universo. O tempo e a paciência são ativos valiosos e extintos, e
como bem-dito por Warren Buffett, “o mercado é um mecanismo de transferência de dinheiro dos impacientes para os pacientes
“.
A volatilidade é um teste para os impacientes
. Ela é parte intrínseca do mercado financeiro, mas para quem entra nele esperando retornos imediatos ou despreparados em saber esperar as oscilações podem ser devastadoras.
A recente turbulência nos mercados internacionais, especialmente nos Estados Unidos, mostrou como a pressa pode ser uma inimiga do investidor.
O índice S&P 500 caiu 10%, enquanto a Nasdaq recuou mais de 14% desde seu último pico
. Um cenário propenso para poupadores acionarem o modo pânico e ideal para investidores lançarem atentamente suas boletas com ordens de compra.
Nessa colisão de expectativas,
o curto prazo se torna bastante traiçoeiro
. Muitos, com fixação excessiva no curto prazo, também vêm, veem e perdem. Quando o cenário muda, seja por uma crise externa, uma inversão de tendência,
reagem movidos pela ansiedade financeira
, fenômeno comum em um mundo hiperconectado, onde notícias, fatos e boatos chegam em tempo real, na velocidade acelerada, alimentando a sensação de urgência.
Em 2025 d.C, um tempo dos vídeos curtos em modo acelerado e dos áudios em velocidade 2x, a verdadeira vitória não vem da pressa. É preciso resistir à tentação das vitórias decisivas e entender que
o tempo
no
mercado é mais importante do que o tempo
do
mercado.
É ter pressa, mas saber ir com calma. Só assim se transforma o “vim, vi e perdi” em um “vim, vi, planejei, esperei, perseverei e, finalmente, venci”.
Ana Leoni — Foto: Arte/Valor
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